domingo, 17 de maio de 2009

Redesenhar disciplinas para um sistema de ensino misto (blended learning)

Utilizar tecnologias informáticas e a web para virtualizar componentes de formação no âmbito de disciplinas permite criar um sistema de ensino/aprendizagem que integre partes presenciais (ensino tradicional face a face) com partes virtualizadas. Inicialmente, e mesmo ainda hoje, poderá considerar-se que o ensino através de computador é frio e impessoal, sem qualquer pathos humano. No entanto, o contacto com qualquer adolescente ou jovem adulto de hoje mostra como a comunicação por meios virtuais faz parte da seu própria vivência e integração social.
A proporção relativa entre as duas partes (presencial e virtual) permite criar sistemas variados, desde uma utilização meramente supletiva a um sistema integrado, até um ensino completamente on-line. Uma classificação desta proporção pode constituir a base para os diferentes modelos deste ensino misto : supletivo, substitutivo, de decisão pessoal (emporium), total on-line e personalizado (buffet).
Introduzir a virtualização em disciplinas universitárias para cursos de grande dimensão implica que se reformulem conteúdos, métodos e avaliação, e se redefinam, talvez de um modo mais claro, os objectivos que se pretendem e as competências que os alunos devem adquirir. Ou seja, deve ser feito o redesenho da disciplina (ou de um curso, se for esse o caso).
Neste sentido, este redesenho pode fazer-se muito oportunamente no quadro filosófico de que o importante no ensino superior é dar ao estudante os meios para que ele possa adquirir competências específicas adequadas e úteis para determinados fins profissionais e de cidadania (student empowerment ?). Ou seja, o processo de Bolonha.
O projecto sobre o redesenho de cursos permite analisar o que, numa experiência piloto, foi feito em diferentes universidades americanas e áreas científicas. Dois objectivos pareciam ser os motores :
- diminuição de custos (incluindo diminuição do número de horas de docentes, a diminuição do custo horário de docente por substituição por pessoal menos qualificado, a diminuição de custos de instalações)
- melhoria de qualidade (maior homogeneidade da formação, maiores taxas de sucesso, maior satisfação).
Sobre o primeiro, pelo menos a curto prazo, não parecem ter sido atingidas as metas ambiciosamente planeadas. As diminuições de custos de docentes nao foram assim tão elevadas, e os custos das infra-estruturas foram possivelmente subavaliados.
Quanto à melhoria da qualidade, ela parece ter sido incremental e muito dependente das circunstâncias próprias a cada caso.
Aspectos de vantagem talvez menos focados, mas a meu ver interessantes :
- o aumento da qualificação e grau de gratificação do trabalho docente (eliminando repetições e massificação presencial, podendo equacionar conteúdos e métodos de um modo mais inteligente)
- idem para os estudantes, especialmente se tiverem avaliação do seu desempenho e um feedback de qualidade sobre a sua prestação.
E isto leva a que, para o sucesso de um curso misto, seja essencial considerar os seus dois principais agentes : os docentes, que deverão saber o que estão a fazer e ser apoiados tecnicamente (e institucionalmente), e os estudantes que deverão conhecer as ferramentas a utilizar e as regras do jogo. Para ambos deve ser claro o que têm a ganhar com o sistema. A obtenção de uma melhor qualidade para o tempo face-a-face acompanha este processo.
A existência de infra-estruturas de hardware e software adequadas, mesmo que mínimas, é obviamente essencial.
A adopção de um sistema misto de ensino/aprendizagem pode ser institucional ou individual (ou de grupo). No contexto actual da UTL, será a segunda hipótese a mais exequível.
Quanto aos destinatários, à partida o sistema não me parece ser destinado preferencialmente para alunos “maduros”, por exemplo de doutoramento. Para estes, sem dúvida qua a partilha de informação e construção conjunta de conhecimento é importante e pode ser feita com instrumentos virtuais de partilha. Mas estamos numa rede de pequenos números… Será a nível de primeiro ciclo que os desafios mais se colocarão, e principalmente nas disciplinas de médios e grandes números.


Terminado em Tunes, a 4 de Maio de 2009

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