segunda-feira, 18 de maio de 2009

Reflexões sobre Recursos Educacionais Abertos (REA)

Os Recursos Educacionais Abertos (REA), conhecidos na esfera global como Open Educational Resources (OER), têm recebido uma atenção apreciável desde o fim dos anos 90, quando se iniciaram as primeiras experiências e projectos, e, em maior grau, desde os últimos 5-7 anos, quando se assiste a uma explosão de oferta tanto em quantidade como em diversidade. É deste último período que data o estabelecimento, mais ou menos oficial, por mão da Unesco e da OCDE, da definição do conceito e do seu conteúdo, acompanhada por desenvolvimentos e análises conceptuais e de implementação e utilização.
As ideias que constituíram os motores para o desenvolvimento de REA foram talvez, numa primeira fase, idealistas e altruístas. Tratava-se de contribuir para:
a) equidade social e geográfica no acesso ao conhecimento
b) devolver à sociedade o conhecimento que ela financiou
c) um aumento do conhecimento global por via do efeito sinergético da partilha do conhecimento por um número alargado de pessoas
d) um aumento do desenvolvimento com base no aumento do conhecimento.
Para que tal fosse possível era necessário que existissem, de facto, os recursos e que estes fossem disponibilizados gratuitamente e com um modo de acesso fácil. O desenvolvimento das tecnologias de informação e dos meios de comunicação foi o motor que permitiu que estas ideias fossem operacionalizadas. No entanto, talvez seja bom não esquecer que já nas épocas pré-computadores, e mesmo muito recuadas, se aplicaram os princípios de “partilha e construção do conhecimento” numa base comunitária e igualitária. E os resultados foram que as sociedades que o aplicaram tiveram desenvolvimento e enriquecimento económico, cultural e social.
Hoje, e nos meios universitários mais avançados nesta discussão e prática, assiste-se ao percurso paralelo de duas correntes aparentemente antagónicas:
- por um lado, a disponibilização explosiva de conteúdos, programas e métodos, de modo livre, tanto de ensino/aprendizagem como de novo conhecimento obtido através de investigação científica (este através dos jornais de acesso livre, por exemplo, mas a uma escala ainda menor)
- por outro, o fomento da protecção da propriedade intelectual, nomeadamente através de patentes, e o apelo à rentabilização económica do conhecimento.
Nesta evolução é factor potenciador o escrutínio recente de análise sobre o papel e a qualidade das universidades, o que leva a que estas, e a sociedade em geral, se debrucem sobre algumas componentes e que estas sejam monitorizadas. Alguns exemplos:
- os sistemas de ranking das universidades, ou em termos mais abrangentes, os sistemas de avaliação da qualidade, têm em conta aspectos (quantificados, não intenções!) de disponibilização de conteúdos, de dimensão de repositórios, de ligação à comunidade nomeadamente através de sistemas de aprendizagem ao longo da vida, responsabilidade social;
- a avaliação científica é ainda feita primordialmente através de publicações em revistas científicas que não são de acesso livre;
- o número de patentes e a exploração económica da investigação (start-ups, spin-off) também são factores importantes de avaliação;
- a avaliação da qualidade pedagógica e dos resultados do ensino/aprendizagem encontra-se numa fase menos desenvolvida do que a avaliação científica;
- os docentes em muitos casos são avaliados preferencialmente pela componente científica da sua actividade.
Apesar de algum efeito contraditório em alguns destes exemplos, é de prever que se assista a um aumento exponencial da disponibilização e utilização de REA e que estes sejam uma vantagem competitiva para a universidade.
Pensando no caso português e, especificamente, na UTL, há algumas características que podem influenciar negativamente a utilização de REA:
- o corpo docente tem globalmente uma idade elevada, o que frequentemente leva a menor experiência com TI e maior resistência à mudança e experimentação (claro que há inúmeras excepções!);
- muitos dos docentes estão sobrecarregados de trabalho, sobretudo os mais interessados e empenhados;
- a exigência sobre prestação científica, incluindo angariação de projectos de investigação com financiamento externo e a publicação de artigos em revistas internacionais indexadas é muito elevada, e nela se baseia grande parte da avaliação dos docentes;
- as restrições financeiras impostas às universidades podem impedir investimentos e experiências;
- os estudantes não têm experiência de trabalho autónomo e participativo utilizando a web como ferramenta de estudo e para ganhar competências;
- os indicadores de sucesso em alguns (demasiados) cursos são muito baixos.
Assim, e muito resumidamente, considero para as REA:
- pontos fortes: qualidade dos docentes e dos estudantes
- oportunidade: necessidade de implementar sistemas de avaliação da qualidade
- ameaças: estrangulamento financeiro; governo das escolas demasiado rígido
- pontos fracos: formação do corpo docente; sobrecarga de tarefas.

Sem comentários:

Enviar um comentário