segunda-feira, 18 de maio de 2009

Selecção de REA



Seleccionei um REA do tipo conteúdo informativo, sob a forma de video, obtido no Youtube, que se destina a ser utilizado na unidade curricular "Biocombustíveis" de um curso de 2º ciclo em Engenharia de Sistemas Bioenergéticos. Esta é uma disciplina que está a funcionar pela primeira vez este semestre e é frequentada por 5 estudantes.
Numa pesquisa rápida ao OCW do MIT não encontrei material video sobre o assunto e os cursos existentes que incluíam este tema pareceram-me razoavelmente tradicionais.
Este video apresenta uma panorâmica geral sobre a matéria. Poderá ser utilizado para ancorar um trabalho individual de pesquisa de material sobre uma das tecnologias/produtos (ex. bioetanol, biogás, etc) que verifiquei que existe no Youtube. O trabalho poderá incluir: a selecção de apenas um video, a sua partilha com os colegas junto com uma descrição do conteúdo, a apresentação de um powerpoint curto (4-5 slides)na aula e discussão com colegas. Este trabalho será avaliado.

Reflexões sobre Recursos Educacionais Abertos (REA)

Os Recursos Educacionais Abertos (REA), conhecidos na esfera global como Open Educational Resources (OER), têm recebido uma atenção apreciável desde o fim dos anos 90, quando se iniciaram as primeiras experiências e projectos, e, em maior grau, desde os últimos 5-7 anos, quando se assiste a uma explosão de oferta tanto em quantidade como em diversidade. É deste último período que data o estabelecimento, mais ou menos oficial, por mão da Unesco e da OCDE, da definição do conceito e do seu conteúdo, acompanhada por desenvolvimentos e análises conceptuais e de implementação e utilização.
As ideias que constituíram os motores para o desenvolvimento de REA foram talvez, numa primeira fase, idealistas e altruístas. Tratava-se de contribuir para:
a) equidade social e geográfica no acesso ao conhecimento
b) devolver à sociedade o conhecimento que ela financiou
c) um aumento do conhecimento global por via do efeito sinergético da partilha do conhecimento por um número alargado de pessoas
d) um aumento do desenvolvimento com base no aumento do conhecimento.
Para que tal fosse possível era necessário que existissem, de facto, os recursos e que estes fossem disponibilizados gratuitamente e com um modo de acesso fácil. O desenvolvimento das tecnologias de informação e dos meios de comunicação foi o motor que permitiu que estas ideias fossem operacionalizadas. No entanto, talvez seja bom não esquecer que já nas épocas pré-computadores, e mesmo muito recuadas, se aplicaram os princípios de “partilha e construção do conhecimento” numa base comunitária e igualitária. E os resultados foram que as sociedades que o aplicaram tiveram desenvolvimento e enriquecimento económico, cultural e social.
Hoje, e nos meios universitários mais avançados nesta discussão e prática, assiste-se ao percurso paralelo de duas correntes aparentemente antagónicas:
- por um lado, a disponibilização explosiva de conteúdos, programas e métodos, de modo livre, tanto de ensino/aprendizagem como de novo conhecimento obtido através de investigação científica (este através dos jornais de acesso livre, por exemplo, mas a uma escala ainda menor)
- por outro, o fomento da protecção da propriedade intelectual, nomeadamente através de patentes, e o apelo à rentabilização económica do conhecimento.
Nesta evolução é factor potenciador o escrutínio recente de análise sobre o papel e a qualidade das universidades, o que leva a que estas, e a sociedade em geral, se debrucem sobre algumas componentes e que estas sejam monitorizadas. Alguns exemplos:
- os sistemas de ranking das universidades, ou em termos mais abrangentes, os sistemas de avaliação da qualidade, têm em conta aspectos (quantificados, não intenções!) de disponibilização de conteúdos, de dimensão de repositórios, de ligação à comunidade nomeadamente através de sistemas de aprendizagem ao longo da vida, responsabilidade social;
- a avaliação científica é ainda feita primordialmente através de publicações em revistas científicas que não são de acesso livre;
- o número de patentes e a exploração económica da investigação (start-ups, spin-off) também são factores importantes de avaliação;
- a avaliação da qualidade pedagógica e dos resultados do ensino/aprendizagem encontra-se numa fase menos desenvolvida do que a avaliação científica;
- os docentes em muitos casos são avaliados preferencialmente pela componente científica da sua actividade.
Apesar de algum efeito contraditório em alguns destes exemplos, é de prever que se assista a um aumento exponencial da disponibilização e utilização de REA e que estes sejam uma vantagem competitiva para a universidade.
Pensando no caso português e, especificamente, na UTL, há algumas características que podem influenciar negativamente a utilização de REA:
- o corpo docente tem globalmente uma idade elevada, o que frequentemente leva a menor experiência com TI e maior resistência à mudança e experimentação (claro que há inúmeras excepções!);
- muitos dos docentes estão sobrecarregados de trabalho, sobretudo os mais interessados e empenhados;
- a exigência sobre prestação científica, incluindo angariação de projectos de investigação com financiamento externo e a publicação de artigos em revistas internacionais indexadas é muito elevada, e nela se baseia grande parte da avaliação dos docentes;
- as restrições financeiras impostas às universidades podem impedir investimentos e experiências;
- os estudantes não têm experiência de trabalho autónomo e participativo utilizando a web como ferramenta de estudo e para ganhar competências;
- os indicadores de sucesso em alguns (demasiados) cursos são muito baixos.
Assim, e muito resumidamente, considero para as REA:
- pontos fortes: qualidade dos docentes e dos estudantes
- oportunidade: necessidade de implementar sistemas de avaliação da qualidade
- ameaças: estrangulamento financeiro; governo das escolas demasiado rígido
- pontos fracos: formação do corpo docente; sobrecarga de tarefas.

domingo, 17 de maio de 2009

Redesenhar disciplinas para um sistema de ensino misto (blended learning)

Utilizar tecnologias informáticas e a web para virtualizar componentes de formação no âmbito de disciplinas permite criar um sistema de ensino/aprendizagem que integre partes presenciais (ensino tradicional face a face) com partes virtualizadas. Inicialmente, e mesmo ainda hoje, poderá considerar-se que o ensino através de computador é frio e impessoal, sem qualquer pathos humano. No entanto, o contacto com qualquer adolescente ou jovem adulto de hoje mostra como a comunicação por meios virtuais faz parte da seu própria vivência e integração social.
A proporção relativa entre as duas partes (presencial e virtual) permite criar sistemas variados, desde uma utilização meramente supletiva a um sistema integrado, até um ensino completamente on-line. Uma classificação desta proporção pode constituir a base para os diferentes modelos deste ensino misto : supletivo, substitutivo, de decisão pessoal (emporium), total on-line e personalizado (buffet).
Introduzir a virtualização em disciplinas universitárias para cursos de grande dimensão implica que se reformulem conteúdos, métodos e avaliação, e se redefinam, talvez de um modo mais claro, os objectivos que se pretendem e as competências que os alunos devem adquirir. Ou seja, deve ser feito o redesenho da disciplina (ou de um curso, se for esse o caso).
Neste sentido, este redesenho pode fazer-se muito oportunamente no quadro filosófico de que o importante no ensino superior é dar ao estudante os meios para que ele possa adquirir competências específicas adequadas e úteis para determinados fins profissionais e de cidadania (student empowerment ?). Ou seja, o processo de Bolonha.
O projecto sobre o redesenho de cursos permite analisar o que, numa experiência piloto, foi feito em diferentes universidades americanas e áreas científicas. Dois objectivos pareciam ser os motores :
- diminuição de custos (incluindo diminuição do número de horas de docentes, a diminuição do custo horário de docente por substituição por pessoal menos qualificado, a diminuição de custos de instalações)
- melhoria de qualidade (maior homogeneidade da formação, maiores taxas de sucesso, maior satisfação).
Sobre o primeiro, pelo menos a curto prazo, não parecem ter sido atingidas as metas ambiciosamente planeadas. As diminuições de custos de docentes nao foram assim tão elevadas, e os custos das infra-estruturas foram possivelmente subavaliados.
Quanto à melhoria da qualidade, ela parece ter sido incremental e muito dependente das circunstâncias próprias a cada caso.
Aspectos de vantagem talvez menos focados, mas a meu ver interessantes :
- o aumento da qualificação e grau de gratificação do trabalho docente (eliminando repetições e massificação presencial, podendo equacionar conteúdos e métodos de um modo mais inteligente)
- idem para os estudantes, especialmente se tiverem avaliação do seu desempenho e um feedback de qualidade sobre a sua prestação.
E isto leva a que, para o sucesso de um curso misto, seja essencial considerar os seus dois principais agentes : os docentes, que deverão saber o que estão a fazer e ser apoiados tecnicamente (e institucionalmente), e os estudantes que deverão conhecer as ferramentas a utilizar e as regras do jogo. Para ambos deve ser claro o que têm a ganhar com o sistema. A obtenção de uma melhor qualidade para o tempo face-a-face acompanha este processo.
A existência de infra-estruturas de hardware e software adequadas, mesmo que mínimas, é obviamente essencial.
A adopção de um sistema misto de ensino/aprendizagem pode ser institucional ou individual (ou de grupo). No contexto actual da UTL, será a segunda hipótese a mais exequível.
Quanto aos destinatários, à partida o sistema não me parece ser destinado preferencialmente para alunos “maduros”, por exemplo de doutoramento. Para estes, sem dúvida qua a partilha de informação e construção conjunta de conhecimento é importante e pode ser feita com instrumentos virtuais de partilha. Mas estamos numa rede de pequenos números… Será a nível de primeiro ciclo que os desafios mais se colocarão, e principalmente nas disciplinas de médios e grandes números.


Terminado em Tunes, a 4 de Maio de 2009

terça-feira, 21 de abril de 2009

4



Em Abril, em Praga e nas florestas à volta, as faias estão a vestir-se. Consoante o local, abrigado ou frio, soalheiro ou sombrio, assim a fase. Em algumas árvores, apenas nas pontas dos ramos as folhas despontam formando casulos pontiagudos. Noutras, as folhas abrem-se , quase translúcidas de tão finas e de um verde brilhante. As nervuras são salientes fazendo um relevo muito gráfico na superfície inferor e o rebordo esbate-se levemente numa ideia de penugem. Quando já mais desenvolvida, a copa sobe ramo a ramo, em patamares que se abrem em planos horizontais. E na floresta mais densa, em fundo de coníferas escuras, as faias brilham, leves e brilhantes, o verde a luzir nos troncos e ramos quase pretos.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

3

Muitas das ruas de Lisboa têm lódãos. Lódão bastardo, de nome completo, Celtis australis de nome cientifico. São árvores que crescem rápido, sem grandes problemas e resistentes à poluição. Um valor seguro para os jardineiros urbanos... Ainda estão bonitas agora. As copas desenvolvem-se rapidamente no início da primavera, fartas, com folhas tenras de um verde claro luminoso. Quando estão seguidas, nas duas margens da rua, formam uma espécie de túnel frondoso. O sentimento é de exuberância e no verde claro imagina-se o azul e o sol, os passeios e o riso. Mas é breve. As folhas escurecem, o verde torna-se carregado e baço, a copa uniforme e monótona. Sombra densa, a lembrar cavernas. O tronco cinzento, uma casca sem graça, de céu carregado.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

2

As laranjeiras são árvores simpáticas. Despretensiosas e alegres. A copa é farta, com formas arredondadas e as folhas bem verdes, com uma cor forte e brilhante. Não há delicadezas de tons tenros nem limbos frágeis. As flores são sólidas, pequenas e discretas, ah mas tão cheirosas. Passear à noite em Sevilha, a roubar os aromas dos pátios e jardins... E depois os frutos, e fica o verde polvilhado de pequenos sóis.
As laranjeiras são como jovens risonhas, cabelos negros e dentes a espreitar, um fio de música alegre no brilho dos olhos.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Dia 1

Nesta primavera, mais uma vez, falhei o momento. Mais um ano, portanto. E isto vem desde há 40 anos, ano após ano, primaveras sucessivas, momentos não agarrados.
No tempo dos autocarros verdes, de dois andares, o banco de três lugares à frente em cima era perfeito. Passava-se a razar as copas, às vezes os ramos fustigavam o vidro, lembro-me especialmente num dos lados do Jardim Constantino onde era inevitável fechar os olhos e encolher-me. Ramos nus, pequenos chicotes. E pensar: vou observar as primeiras folhas, vou marcar o dia de início da renovação. E de repente, tinha-me distraído, as folhas já estavam formadas, já havia tufos por toda a copa. Para o ano, portanto, sem falhar.
Será sem dúvida em 2010.